quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"Sou"



...
- O que você é?
Perguntou-lhe em tom de desdém.
- Pergunta besta! Sou o que sou, ué!
Respondeu ele rispidamente, orgulhoso demais para admitir que lhe fora ensinado apenas "ser". Não sabia ao certo o que e nem porque era; sabia apenas que era.
Juvenal fora ensinado desde cedo a não querer demais, posto que o mundo não tinha muito a lhe oferecer. Fora ensinado que pobres são pobres, mesmo que banhados em ouro. Sempre tivera dúvidas acerca do motivo de "ser", mas nunca ousara fazer questionamentos; tinha medo das respostas. Mas que atire a primeira pedra, aquele que não teme respostas. As respostas assustam pois não são elas "sabidas". Podem ser tanto boas quanto terríveis. Podem nos fazer flutuar ou amargar eternamente. Juvenal preferia não arriscar.
Quando pequeno, certa vez, perguntara a seu avô (mal chegara a conhecer seu pai, que morrera vítima de traição quando, enquanto ébrio, flagara sua mulher no colo de outro homem que, assustado, atravessara-lhe a peixeira pela barriga... sua mãe o abandonara e fugira com o tal homem) se algum dia seria alguém, mas obtivera como resposta um cascudo e um "Deixe de ser besta, menino! Você é você!". A partir de então, passara a usar a mesma resposta, e não mais fizera perguntas, por medo dos cascudos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Com o tempo, os cascudos-respostas devem acabar imprimindo novidades o bastante pra surpreender uma vida inteira. E como assustam as novidades! *-|

Bjokas.